Sessão principal do FIB14 discute outros futuros para a Internet no contexto da tecnodiversidade e do colonialismo digital
Debate instigou os presentes a repensarem a Internet e as alternativas de desenvolvimento tecnológico que contemplem a especificidade de povos e grupos locais não-ocidentais
A primeira sessão principal do 14 Fórum da Internet no Brasil – FIB14 – realizada no início da tarde desta quarta-feira (22) lotou a sala destinada ao debate no hotel Bourbon em Curitiba (PR). Com o objetivo de explorar a intersecção do colonialismo digital e o conceito de tecnodiversidade, a sessão instigou os presentes a repensarem a Internet e as alternativas de desenvolvimento tecnológico, que contemplem a especificidade de povos e grupos locais não-ocidentais.
O conselheiro do CGI.br e especialista em segurança cibernética e proteção de dados Rodolfo Avelino apresentou os debatedores da sessão e deu a palavra para o professor da UFABC e doutor em Ciência Política Sergio Amadeu. “Antes de abordar a questão do colonialismo e da tecnodiversidade, acho necessário falar sobre infraestruturas de concentração e infraestruturas de diversidade. Começo citando F. A. Hayek, com base no livro ‘The Sensory Order’, que disse que a principal função da mente é a classificação e a extração de valores. A inteligência é fundamentalmente a capacidade de extrair valores. Hoje, estamos tratando do mesmo paradigma, a extração de dados”, iniciou Amadeu.
A vulnerabilidade brasileira no armazenamento de dados e o alto valor dos mesmos atualmente foram demonstrados pelo professor por meio de estudos e reportagens. “Temos possibilidades estratégicas para sair desta vulnerabilidade. Podemos criar infraestruturas soberanas de armazenamento e tratamento de dados, federadas ou não, iniciando pelas universidades. Podemos dispor de frameworks para o treinamento de modelos com os dados disponíveis em nosso país, submetidos às nossas leis e aos nossos comitês de ética; podemos conter a extração de dados do Estado e das universidades públicas realizada pelas big techs e utilizar o poder de compra do Estado para desenvolver nossas estruturas de IA soberanas e, por fim, lançar o Comitê de Tecnodiversidade de IA, que busque novas abordagens cosmotécnicas”. Amadeu finalizou reforçando que a soberania é o caminho de contraposição ao colonialismo.
O coordenador de Arquitetura da Informação Museal no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), José Murilo Costa Carvalho Junior, teve a fala seguinte a de Sergio Amadeu, destacando a falta de institucionalidade no ambiente da Internet. “A experiência na implementação dos museus digitais, iniciada com o Projeto Tainacan, pode ser muito útil em diversas reflexões apontadas hoje. Quero utilizar esse espaço para fomentar uma política pública de preservação da memória digital”, ressaltou, apresentando o histórico das iniciativas brasileiras para esse fim.
Thiane Neves Barros, do Centro e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), seguiu a fala na sessão representando o terceiro setor e, com base no conto Anansi e o Baú de Histórias – de Zélia Amador de Deus - trouxe metáforas para abordar o colonialismo e as máscaras do racismo nos meios digitais. “Diante do exposto, convido todos a fazerem analogias possíveis para entendermos quem concentra, quem acessa e quais os preços que temos que pagar por esses acessos”, disse Thiane, sendo aplaudida de pé pelos presentes.
Encerrando as falas dos debatedores, Priscila Cardoso, líder de Diversidade, Equidade e Inclusão no Jusbrasil, trouxe a reflexão sobre a importância de “sair da bolha e acessar outras bolhas” para criar a conectividade necessária à criação de uma sociedade mais saudável. “Você só consegue ser espontâneo naquilo que você conhece minimamente. Como posso criar condições para que as pessoas tenham acesso ao mínimo? Quando você se abre para se conhecer por inteiro e conhece com profundidade o outro, você consegue ‘se tornar um grupo (uma sociedade)’ mais saudável. Se não conseguirmos quebrar nossas bolhas para pegarmos outros pontos de vista para a tomada de decisões, não vamos chegar a lugar nenhum. A pergunta é: como a Internet pode contribuir para essa efetiva e democrática conexão que ainda não ocorre em nosso país?”, questionou Priscila.
Instituto Danilo Doneda
Durante a sessão, a doutora em Educação Luciana Doneda apresentou as ações de proteção à educação realizadas pelo Instituto Danilo Doneda (https://institutodanilodoneda.com.br/). Renomado jurista brasileiro em proteção de dados, Doneda faleceu em 04 de dezembro de 2022, e o instituto foi criado em sua homenagem.
“O Instituto vem desenvolvendo diversas iniciativas que continuam lutando pelas definições em âmbito digital defendidas pelo Danilo. Entre elas, destaco a proposta de criação de uma disciplina escolar específica que envolva o conhecimento da tecnologia aliado ao uso e prática na vida cotidiana, e o desenvolvimento de um Projeto de Lei para a criação do Dia Nacional de Proteção de Dados Pessoais. O Projeto já foi aprovado no Senado e agora está em tramitação na Câmara”, disse Luciana, ressaltando também o lançamento do livro Direito do Amor, de Stefano Rodotá, traduzido pelo Danilo e por ela. “Segundo o autor, o direito do amor tem que servir como base do pensamento para discutir a questão de respeito à digitalidade, identidade, diferença e liberdade”.
A sessão está disponível no canal do NIC.br no YouTube e pode ser revista por meio do endereço: https://www.youtube.com/watch?v=EIIOGMlo8z0&list=PLQq8-9yVHyOYZkTRB-bLufV676htW3zs-&index=8&t=2s.
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