Especialistas aprofundam debate sobre diversidade e gênero na tecnologia no 12º Fórum da Internet no Brasil
Programação do evento segue até esta sexta-feira (3) com workshops e sessões plenárias que analisam temas diversos do universo da governança da Internet
Em sua 12ª edição, o Fórum da Internet no Brasil (FIB), evento promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), reuniu na manhã desta quarta-feira (1º) na cidade de Natal (RN) especialistas de renome em torno do debate sobre “Diversidade e Gênero nas TIC: uma agenda para inclusão e representatividade”. O dia foi marcado ainda pela sessão de abertura, que contou com a participação de conselheiros do CGI.br e autoridades do Rio Grande do Norte.
“Sediar na nossa capital um encontro dessa envergadura é motivo de júbilo para todos nós”, declarou o vice-governador do estado, Antenor Roberto, acrescentando que os temas tratados no Fórum são atuais, instigantes e dialogam com a nova geração. Ele enfatizou que, assim como todos os insumos e instrumentos que a humanidade teve acesso, a tecnologia pode tanto servir para edificar quanto para desconstruir. “Mas nós estamos aqui na perspectiva progressista que é construir, a partir dessas discussões, uma tecnologia que possa trazer mais integração e menos exclusão, mais sabedoria e menos barbárie para a humanidade”.
Já o Conselheiro representante do Setor Governamental e ministro das Telecomunicações em exercício, Maximiliano Martinhão, destacou que o Nordeste tem muito a contribuir para os debates da Internet, e que é a região onde o acesso à rede mais cresce no país. Deu exemplos de iniciativas do governo federal para a ampliação do acesso. Por fim, ressaltou que o Fórum, além de temas relevantes, possui debates necessários e importantes, e tem uma preocupação grande com o futuro.
José Gontijo, Coordenador do CGI.br, elogiou o modelo de governança multissetorial brasileiro, afirmando que ele é referência e um dos mais respeitados do mundo. “Entendemos que é preciso pensar no modelo e no futuro da Internet no Brasil, mas não podemos esquecer que temos no decálogo, onde pregamos uma Internet livre, soberana, onde cada brasileiro tem que ser incluído para ter a sua cidadania digital. E isso só pode acontecer quando todos os setores estão juntos”.
Conduzida por Tanara Lauschner, Coordenadora do Grupo de Trabalho do FIB12 e Conselheira representante da Comunidade Científica e Tecnológica no CGI.br, a sessão de abertura contou ainda com a participação de Nivaldo Cleto (Conselheiro representante do Setor Empresarial); Percival Henriques (Conselheiro representante do Terceiro Setor); Gustavo Paiva (Coordenador Local do FIB12); Carolina Barbosa, secretária Adjunta de Tecnologia da Informação da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA) e Edivaldo Cavalcante de Albuquerque Junior, representante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Diversidade e gênero nas TIC
Mediadora da sessão principal sobre diversidade e gênero nas TIC, Laura Tresca (conselheira do CGI.br), destacou que homens e mulheres não se beneficiam da sociedade do conhecimento de maneira igualitária, e que é necessário conhecer as desigualdades para promover avanços. Ela ressaltou ainda que recentemente o CGI.br assumiu uma agenda de trabalho sobre diversidade.
“Resolvemos, como Comitê Gestor da Internet, responsável por formular diretrizes para o desenvolvimento da Internet no Brasil, fazer consultas a especialistas sobre quais eram os desafios para a promoção da igualdade de gênero na Internet, e como apresentar uma agenda de atuação não só para o CGI.br, mas para toda a sociedade", afirmou. Os desafios listados são: aprofundar a produção de dados; inclusão digital não restrita simplesmente ao acesso, mas que contemple a produção de tecnologias; enfrentamento da violência de gênero e de raça; participação na governança da Internet e fomento à diversidade.
De forma complementar, Biamichelle Miranda (consultora em diversidade e inclusão e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) enfatizou a importância de abordar a questão da diversidade de gênero de forma ampla, incluindo também travestis e mulheres transsexuais. Para ela, o primeiro desafio é olhar os diferentes grupos de diversidade e entender que, dentro de cada um, há outros grupos, com suas especificidades. Além disso a inclusão de pessoas negras na tecnologia, a pesquisadora da PUC-RS disse que os desafios enfrentados são os mesmos da comunidade negra como um todo: combater o racismo em todas as suas formas, institucional, cultural e estrutural. "Estamos caminhando, mas ainda muito distantes de onde queremos chegar".
Neutralidade em xeque
Na avaliação de Clara Marinho, consultora das Nações Unidas para a Década Afrodescendente, a tecnologia não é neutra e está inserida num contexto social específico. "Ainda que o Brasil tenha uma população negra em maioria, a tecnologia expressa uma visão de que há pessoas que têm recursos materiais e simbólicos maiores do que outras. Há uma escala de humanidades, e ela se reverbera na tecnologia”.
Renata Gusmão (líder de transformação social da ThoughtWorks) apontou que um grupo muito homogêneo pensa e constrói soluções na área, ao mesmo tempo, impactando uma diversidade de pessoas. “Como trazemos essa diversidade para dentro do processo de pensar a tecnologia? E como ela pode resolver de verdade problemas das pessoas, e não apenas para um grupo tão pequeno?", indagou, completando que essa questão fica ainda mais explícita num contexto de desigualdades. “Ao mesmo tempo em que a área está versando sobre metaverso, muita gente não tem acesso nem a Wi-Fi”.
Para ela, é preciso criar novas referências, de forma que as diversidades possam ser melhor acolhidas e para que o ambiente se torne menos hostil. "Quando olhamos para as referências de quem está tomando as decisões, muitas vezes, encontramos homens brancos, héteros, cis, sem deficiência. Isso faz com que nas nossas subjetividades fique essa ideia de que, para estar lá, tem que seguir esse modelo. É necessário construir novas referências, trazer vozes que foram invisibilizadas ao longo do tempo. Para que consigamos evoluir na direção certa, é preciso trazer essa diversidade para dentro da produção de tecnologia”.
Já Marjory da Costa Abreu (professora de ética na Inteligência Artificial na Sheffield Hallam University) falou sobre o uso do aprendizado de máquina para a mitigação das desigualdades de forma geral. De acordo com ela, a tecnologia pode ser uma aliada no combate à discriminação de raça, gênero e orientação sexual. Daiane Araújo dos Santos (coordenadora da rede comunitária da Casa dos Meninos), por sua vez, afirmou que as tecnologias digitais ainda são pouco utilizadas como ferramenta para a diminuição das desigualdades. "Precisamos fazer esse movimento com mais força e efetividade".
Cristiano Maciel, que representou o projeto Meninas Digitais Mato Grosso, defendeu que a tecnologia pode contribuir para a diversidade na TI - numa perspectiva que vai além do gênero, e abarca raça e etnia, perfil escolar, faixa etária e grupo social. Persistência, pluralidade, praticidade, parceria, fortalecimento, pioneirismo e produtividade são fatores-chave para que isso aconteça. "Falando um pouco sobre nossas iniciativas, percebo que cada vez mais é necessário ser interdisciplinar e intersetorial. Precisamos sair dos quadrados e começar a conectar as partes para fazer discussões mais produtivas", afirmou.
Para ele, mais do que questionar se houve avanços ou retrocessos na questão da representatividade, é necessário seguir lutando em rede, ter também homens nessa luta, ter mais mulheres nos postos de liderança e promover o valor da diversidade. Entre os desafios apresentados por Maciel estão: educação que de fato liberte, atuar na construção de políticas públicas, atuar com o mercado de trabalho, buscar mais apoios institucionais e financiamentos, usar a tecnologia para promoção da pauta e criar oportunidades de debates.
Programação do FIB12
A regulação de plataformas e compensações à atividade jornalística; e os 30 anos da ECO-92 e o futuro da Internet no Brasil são temas das sessões principais que acontecem nesta quinta (2) e sexta-feira (3), respectivamente. O Fórum, cujas inscrições são gratuitas e estão disponíveis no sítio do evento, também conta com transmissão ao vivo pelo canal do NIC.br no YouTube. A programação do evento é composta ainda por workshops sugeridos pela comunidade brasileira em governança da Internet, reunindo no mesmo espaço representantes de diversos setores, como governamental, empresarial, terceiro setor e comunidade científica e tecnológica. Entre os temas que serão analisados, estão: dados, informações e conteúdos digitais; diversidade e inclusão; infraestrutura, acesso e conectividade; Internet, sociedade e cidadania; privacidade e segurança e questões jurídicas, regulatórias e extraterritoriais, entre outros. Veja a programação em: https://forumdainternet.cgi.br/programacao/agenda/2/.
Anote na Agenda
12º Fórum da Internet no Brasil – FIB12
Dias: de terça-feira (31/05) à sexta-feira (3/06)
Local: Hotel Holiday Inn - Avenida Senador Salgado Filho, 1906, Lagoa Nova - Natal
Horários: quinta (das 10h às 18h40) e sexta (das 10h às 18h40)
Transmissão: https://www.youtube.com/NICbrvideos
Inscrições: https://forumdainternet.cgi.br/
Sobre o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br
O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR — NIC.br (https://nic.br/) é uma entidade civil de direito privado e sem fins de lucro, encarregada da operação do domínio .br, bem como da distribuição de números IP e do registro de Sistemas Autônomos no País. O NIC.br implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br desde 2005, e todos os recursos arrecadados provem de suas atividades que são de natureza eminentemente privada. Conduz ações e projetos que trazem benefícios à infraestrutura da Internet no Brasil. Do NIC.br fazem parte: Registro.br (https://registro.br), CERT.br (https://cert.br/), Ceptro.br (https://ceptro.br/), Cetic.br (https://cetic.br/), IX.br (https://ix.br/) e Ceweb.br (https://ceweb.br), além de projetos como Internetsegura.br (https://internetsegura.br) e Portal de Boas Práticas para Internet no Brasil (https://bcp.nic.br/). Abriga ainda o escritório do W3C Chapter São Paulo (https://w3c.br/).
Sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br
O Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios do multissetorialismo e transparência, o CGI.br representa um modelo de governança da Internet democrático, elogiado internacionalmente, em que todos os setores da sociedade são partícipes de forma equânime de suas decisões. Uma de suas formulações são os 10 Princípios para a Governança e Uso da Internet (https://cgi.br/resolucoes/documento/2009/003). Mais informações em https://cgi.br/.
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